GESTÃO INDUSTRIAL E STORYTELLING/JORNALISMO LITERÁRIO
Uma “canjinha” de leitura (agradável e instigante, espero ), se você se interessa por gestão, liderança e histórias empresarias: um excerto desse livro que produzi para Leonardo Lage Carneiro. Ele, protagonista de um emblemático caso de gestão fabril, eu, o escritor que deu vida a esse episódio marcante de sua carreira de executivo e consultor, aplicando meu estilo narrativo alicerçado no storytelling, tal qual praticado na tradição do Jornalismo Literário.
” A Aços Longos fez tudo certinho quando inaugurou no final de 2003 esta décima unidade de corte e dobra de aço, através da sua divisão dedicada à construção civil. Foi um investimento aproximado de uns R$20 milhões na fábrica desenhada para atender a uma centena de obras civis simultaneamente, residenciais ou de infraestrutura, gerando quase 50 empregos diretos e indiretos, declarou o presidente da empresa para a imprensa. Os equipamentos são novos.
O lugar é ótimo, se você pensa na logística. Biguaçu fica entre Itajaí e Imbituba, os maiores portos de Santa Catarina. A BR-282 também passa ali, ligando Florianópolis com o interior. E o tempo do mercado é favorável. A construção civil está superaquecida. Tudo parece preparado para uma fábrica campeã.
Só que quando chego, um pouquinho mais de dois anos após a inauguração, essas condições favoráveis não são suficientes para a coisa dar certo. A fábrica não está dando resultado. Ainda por cima, há muita reclamação dos clientes.
Acontece que há umboom de obras acontecendo em Balneário Camboriú, essa explosão imobiliária de construção de prédios altíssimos, um crescimento econômico muito forte. E em Floripa também.
A Aços não tem uma força de vendas estruturada em Santa Catarina. O que tem são alguns representantes comerciais. Um deles, antigo executivo da própria empresa, é figura muito importante aqui no Sul, tem relacionamento direto com os sócios. Ele vende pra caramba, só que de um jeito desarticulado com a fábrica. Se o cliente precisa de uma entrega rápida, de três dias, ele vende, aceita o pedido, independentemente da quantidade, do formato das peças, da dificuldade de se produzi-las, mesmo sem saber se a fábrica está em condição de atender. E impõe sua decisão ao chefe da fábrica. Vira e mexe não dá outra. A entrega atrasa, o cliente reclama com razão. E esse representante reclama então da gestão da fábrica.
O chefe da unidade é desde o começo da fábrica um engenheiro jásênior, com experiência de gestão em outras unidades do grupo empresarial, no Sul do país. Adriano é de uma visão bastante técnica do trabalho, uma pessoa de perfil moderado, muito bem-quisto pelo pessoal da fábrica. Mas não sabe dizer “não” ao representante comercial. E desconfio, pelo jeitão muito amigo dele, os funcionários eram até meio desrespeitosos com ele.
Se fosse só isso, já seria muito pepino para descascar. Mas tem mais. A fábrica está instalada num quarteirão no meio da cidade. Não está numa zona industrial. O proprietário da área é José Castelo Deschamps, que vai ser prefeito da cidade no futuro. Mas já tem força política, consegue que a fábrica seja implantada ali, no espaço urbano de Biguaçu.
Só que tem vizinhos em volta. Reclamam muito do barulho, dos caminhões que chegam para transportar as peças de aço, da poeira, do movimento. A fábrica tem um galpão grande, mas uma casa de escritório pequena. Tem também uma torre de caixa d´água em formato de castelo, homenagem óbvia ao proprietário de tudo por ali. Mesmo em meio às controvérsias, a fábrica torna-se uma referência para a cidade. Muita gente gosta, porque gera empregos.
Então tenho de encarar todos esses problemas externos. E os internos.”
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