SINFONIA DE AMOR
Viagens
Meu livro Por Trás do Tapete Mágico – Histórias da Aviação, lançado em agosto, seria parte de um projeto maior que denominei Memórias Narrativas. A ideia era produzir três livros que seriam compilações de reportagens que escrevi para revistas desde a década de 1980. Aviação comercial seria o tema do primeiro volume. Viagens e Turismo seria o segundo. E Nova Consciência seria o terceiro.
Ao levantar arquivo, porém, percebi que não havia material suficiente para o segundo, nem para o terceiro. Memórias Narrativas ficou valendo, como selo, para o primeiro livro, de qualquer modo.
Um ou outro texto que não estará mais em livro algum, porém, talvez mereça uma sobrevida. Curtição para o autor e, espero, curtição para os amigos que desejarem embarcar em breves viagens narrativas.
Aqui vai um primeiro. Quem sabe um tempo depois poderá haver outro. Sem pressa, nem pressão.
Publico aqui com autorização do Panrotas, revista onde o texto foi originalmente publicado.
Vamos nessa? Viagem narrativa, de tempo e lugar.
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Um novo destino turístico na Argentina abre as portas para uma rara experiência de contato fecundo com a Natureza.
Enquanto as operadoras começam a lançar seus programas, prepare o seu coração – e o de seus clientes –
para viver uma comovente
SINFONIA DE AMOR
Edvaldo Pereira Lima
Península da Valdés, Argentina. Um pedaço de terra que avança Oceano Atlântico a dentro, na região patagônica. Província de Chubut, sul do país. Um acidente geográfico em torno do qual os mistérios da Vida fazem acontecer a reunião cíclica de animais raros – elefantes e lobos marinhos, baleias, pinguins, pássaros – que aqui vêm de longe procriar, cumprir o destino da continuidade das espécies e de participação na grande, divina, insondável trajetória do equilíbrio ecológico natural no planeta.
Província de Chubut, Argentina. O território político geográfico deste país que serve, em certa medida, de exemplo conservacionista para o mundo, estabelecendo legislação pioneira que combate a depredação humana das espécies, dando guarida aos animais – criando reservas faunísticas em diferentes pontos -, e incentivando a participação da ciência no estudo da rica fauna marinha que tem, nessa região, seu único contato direto com o continente. Uma província onde a mentalidade turística está implantada ao lado da um claro propósito de proteção à Natureza.
Aqui, o turismo desempenha um papel infelizmente muitas vezes desprezado: o papel educativo representado pelo contato amistoso, respeitoso, até, com as particularidades mais diversas da vida natural, sem lhe causar danos. A preocupação científica, os propósitos conservacionistas e a atividade turística unem-se de maneira inteligente, harmoniosa.
Pouco conhecida do público estrangeiro, esta região abre-se gradativamente ao fluxo turístico do exterior, ultrapassando, agora, a fase em que a procuravam apenas turistas excêntricos que queriam gravar o som das baleias, fotografar os elefantes marinhos em seu “habitat” natural ou visitar a ordeira comunidade dos pinguins. No Brasil, começa a atividade das operadoras – em destaque a Sol Jet – e de pelo menos uma transportadora aérea – a Austral, – para promover, ainda neste verão, a vinda de turistas brasileiros a este recanto quase virgem, santuário da Mãe Natureza e seus encantos livres.
Aqui, o turismo alcança uma posição de indiscutível nobreza e se vê a complexidade material dos interesses financeiros aliada a um objetivo honroso. Sem o turismo, seria muito menor o número de privilegiados que podem vivenciar momentos capazes da calar fundo àqueles cuja sensibilidade está viva, apesar da tudo. E as crianças, provavelmente, saberão, melhor do que nós, entorpecidos adultos da civilização tecnológica moderna, mergulhar cerimoniosas, porém abertamente descontraídas, nas lições desta escola natural que, de tão simples, mas complexa, é comovedora.
Primeiros Movimentos:
A Natureza
1 – É um momento de expectativa agradável, quase infantil. No barco pequeno, todos são tomados por uma aura de descontração sadiamente inocente. A diminuta localidade de Puerto Pirámides fica para trás, em terra firme, enquanto o barqueiro sai do Golfo Nuevo, entra em mar aberto, bem próximo à costa. As nuvens ameaçadoras de chuva forte prenunciam que esta será a última visita do dia.
De repente, os motores são desligados, uma ordem vigorosa de silêncio total corta o ar, os dedos apontam uns dez metros à frente. Emoção geral, são todos crianças, agora. As mulheres não deixam de emitir um emotivo “que lindo!”, os homens se contêm em muda contemplação. A baleia flutua majestosa, gigantesca – pode chegar a 15 metros de comprimento, 37 toneladas de peso -, traz o extremo da cauda colado à cabeça do filhote, como se fosse uma mãe humana conduzindo o bebê, pela mão, a um passeio no jardim.
A baleia brinca, solta esguichos de água, familiariza o filhote cada vez mais com seu elemento de vida, antes das futuras navegações pelos altos mares, provavelmente Oceano Atlântico acima, até à altura do Rio de Janeiro e depois – se não for pega pelo arpão traiçoeiro de seu maior depredador – de volta até o Polo Sul, para em seguida chegar a Valdés de novo e ter outra cria. Ela desliza lentamente na água, aparentemente indiferente à presença do barco, talvez pela atenção que dá ao filhote. Mas às vezes, explica o barqueiro, ela dá vazão à sua extrema curiosidade e amistosidade para com o ser humano: aproxima-se até dois metros do barco, tira a cabeça parcialmente fora da água, fica olhando aqueles que a observam. Aqui, esta espécie – vulgarmente conhecida como baleia franca – está protegida por lei desde 1974, mas em alto mar essa sua curiosidade lhe é fatal: aproxima-se do barco tripulado pela espécie supostamente mais inteligente – e que, portanto deveria ter maior consciência global, respeito pela vida -, uma arma assassina sela seu destino.
As baleias francas do sul são, em tamanho, os reis incontestáveis das águas atlânticas na região da Península de Valdés. Elas começam a chegar em junho, ficam até a primeira semana de dezembro. Emigram e voltam, ano após ano, obedecendo um ritual que a Natureza lhes implantou, usando um magistral senso de navegação que a Vida lhes concedeu. Aqui, em águas abertas, tão francamente expostas aos olhos do homem, embelezam o cenário, sensibilizam os corações, fazem pensar na magia do divino Grande Arquiteto que criou os incontáveis seres viventes, a interação ecológica entre eles, os elementos onde circulam e a Casa global que é palco esplendoroso para este espetáculo sublime chamado Terra.
2 – O cenário é cinematográfico: rochedos altíssimos, praias arenosas, repletas de pedras, um céu austral azulíssimo. Deitados ao sol, numa extensão a perder de vista, centenas e centenas de elefantes marinhos. São animais que lembram as espécies da pré-história, talvez os últimos de seus descendentes. Estão divididos em grupos geograficamente distintos: cada grupo reúne um certo número de fêmeas – até 30 ou 35 -, os filhotes e um macho reprodutor, o chamado sultão. Ficam todos ali, provavelmente armazenando energias para o longo período de navegação em alto mar ou devido à troca de pele dos filhotes, que lhes provoca a elevação da temperatura periférica, fazendo-os sonolentos. Só o sultão não pode relaxar muito: de vez em quando algum outro macho desafia sua soberania e ele tem de fazer jus ao harém, expulsando de seu território o intruso com vários golpes de peito realmente demolidores; ele pode pesar até quatro toneladas e o macho fisicamente menos robusto tem de se contentar em ficar distante das fêmeas, aguardando uma desatenção qualquer do sultão.
Apesar do tamanho, os elefantes marinhos são tímidos, diante do homem. Quando percebem, na praia, a presença humana, abrem uma bocarra ameaçadora, como arma moral de defesa, mas logo fogem para a água. No mar, são velozes, exímios nadadores. Em terra, rastejam algo desajeitadamente os corpanzis.
O elefante marinho do sul – “mirounga leonina” – é um animal também migratório, encontra-se distribuído pelas ilhas e territórios da região denominada pré-antártica. Mas a única colônia reprodutora continental conhecida, até o momento, é a Península de Valdés, aonde chegam anualmente, no período de reprodução – entre julho e dezembro -, cerca de 13 mil animais. São mais de 250 quilômetros de costa reservados aos “haréns” de elefantes marinhos, porém só dois pontos estão franqueados à visitação turística. Graças às leis conservacionistas, a espécie – que vinha se extinguindo – hoje aumentou significativamente seu número. Em 1975, um rigoroso censo permitiu comprovar o nascimento de 3.388 filhotes em Valdés.
3 – A Reserva Faunística “Isla de los Pájaros”, às margens do Golfo San José, é um verdadeiro paraíso para as milhares de aves marinhas que utilizam o local durante o ciclo anual de reprodução. As gaivotas, as garças, os flamingos e outras espécies têm como “habitat” um arbusto patagônico, o “jume”, que com seu metro e meio de altura e proximidade do mar, serve de receptáculo perfeito para a construção dos ninhos.
Os pássaros começam a chegar pouco antes do verão e além das atividades de procriação, em si, desempenham uma série de outras ações diárias: alimentação – à base de crustáceos -, proteção dos ninhos contra invasores, cuidado para com os filhotes etc. Essa movimentação toda é acompanhada por um constante, fantástico gorjeio. E como proteção aos animais da Ilha – pequena, com 170 por 75 metros de dimensão -, o ser humano não pode se aproximar muito, pois sua presença prejudica irremediavelmente as aves. No passado, essa presença extinguiu completamente a procura dos pássaros pela Ilha. Depois, com a instalação de um posto de observação – munido de telescópio – a 800 metros, a criação da Reserva e a colocação de guardas faunísticos para coibir os mais ousados, as aves voltaram.
4 – Ah, os pinguins! Os delicados, curiosos, amistosos pinguins que chamam a atenção pelo caráter extremamente organizado de sua comunidade, vêm aos milhares à Península de Valdés, em seu período de procriação, de setembro a março. Os cientistas calculam em um milhão e duzentos mil a população da espécie – “spheniscus magellanicus” – que forma a colônia da Reserva de Punta Tombo, a 120 quilômetros da cidade de Rawson, capital de Chubut.
Eles chegam de sua navegação pelas rotas misteriosas das espécies marinhas, os machos vão tratando logo de fazer cortejo às fêmeas. Formados os casais, eles saem terra a dentro – centenas de metros, às vezes até mais de um quilômetro – para, longe do mar, construir suas “casas”: buracos cavados no descampado ou sob a proteção de arbustos de pouca altura. As fêmeas põem de um a três ovos cada uma e aí ela e o macho se revezam no ato de chocar os ovos, mais tarde de proteger o ninho, de alimentar os filhotes.
Seu senso de orientação é formidável. Saem para o mar e depois voltam, sem nenhuma dificuldade, diretamente ao seu ninho, esteja onde estiver, sem confundi-lo com os outros milhares de ninhos da colônia. Você gira a cabeça, em Punta Tombo, os vê aos milhares, levando os filhotes à água para aprender a nadar, chocando os ovos, caminhando em seu passo pitoresco, em pares, trios ou pequenos grupos, como se formassem uma sociedade extremamente funcional. São inteligentes: se a presença humana se interpõe numa de suas trilhas de passagem, imediatamente passam de largo, a dois ou três metros e logo ali se forma uma nova corrente de pinguins em trânsito. Mas não temem o homem: permitem aproximação, viram suas cabecinhas de lado, rapidamente, para nos observar melhor quando os encaramos.
São, certamente, animais que despertam muito a simpatia das pessoas. Quando uma empresa japonesa decidiu instalar uma fábrica de processamento de carne de pinguim, na Patagônia, os protestos indignados foram gerais na Argentina. Para descontentamento dos japoneses, eles continuam a colorir – protegidos e em liberdade – Punta Tombo seis meses por ano.
5 – Há outras espécies que também procuram a região da Península de Valdés para procriar. É o caso dos lobos marinhos – animais que pesam até 400 quilos -, que chegam a partir de dezembro e ficam até março ou abril.
As razões para a presença privilegiada de tantas espécies diferentes na região são duas: a abundância de plâncton – comunidade de pequenos animais e vegetais que vivem em suspensão nas águas -, isto é, de alimento, e a pouca presença do ser humano, uma vez que a região é pouco habitada. Além disso, as reservas de fauna as protegem.
Quanto ao aspecto científico, o Centro Nacional Patagônico desenvolve estudos das espécies da região, assim como o fazem a New York Zoológica Society e a National Geographic Society, que mantêm postos na área. O interesse preservacionista alia-se ao turístico. Os argentinos sabem que se os animais forem extintos, acabará o grande atrativo atual da região e conseguiram, por isso, criar o equilíbrio entre a exploração turística, o respeito à balança ecológica e a investigação da ciência.
6 – Além dos animais marinhos, a região conta com a presença de espécies terrestres também protegidas por leis preservacionistas. É o caso da “ñadú”, ave parecida à ema brasileira e do guanaco, animal parecido ao lhama.
A Patagônia, na altura da Península, é uma região árida, de vegetação rasteira, terrenos imensamente planos, a perder de vista. Sempre despertou o interesse dos aventureiros e pioneiros, mas foi relegada a segundo plano, no processo histórico de desenvolvimento do país. Enquanto a região do Rio de La Plata e dos pampas centralizava as atenções gerais, os desertos patagônicos mantinham-se quase intocados. Por suas características, prestou-se melhor à criação de carneiros do que de gado bovino. Assim, hoje o turista se depara, de vez em quando, não apenas com o guanaco ou a “ñadú” cruzando a estrada, mas também com alguma ovelha desgarrada de seu rebanho.
Últimos Movimentos:
O Turismo
7 – A região da Península de Valdés conta, em suas proximidades, com quatro cidades principais que abrigam os turistas e servem de ponto de partida para as visitas às reservas de fauna. Mas são todas cidades pequenas – nenhuma delas ultrapassando os 50 mil habitantes -, próximas entre si. A principal é Trelew, a 1.470 quilômetros ao sul de Buenos Aires – cerca de duas horas de voo pela Austral ou pela Aerolineas Argentinas -, servida por uma razoável rede hoteleira e centro comércio/industrial do noroeste de Chubut. Em suas cercanias – a 17 quilômetros cada uma – estão Rawson – minúscula capital administrativa da Província, chamada de a “Brasília Patagônica”, por seus edifícios públicos – e Gaiman – pequena comunidade de destacado valor histórico, onde o turista pode desfrutar da principal atração culinária regional, a torta negra galesa.
Mais distante de Trelew – 65 quilômetros – está Puerto Madryn que, devido à sua localização privilegiada, encontra-se mais próxima à maioria das reservas faunísticas da região. Partindo de Puerto Madryn – que conta com três agências de turismo receptivo, dois hotéis de grande porte, com 50 e 40 apartamentos respectivamente, alguns outros estabelecimentos hoteleiros menos sofisticados – o turista chega às diferentes reservas por estradas asfaltadas ou de terra batida. Os pontos onde se concentram os animais – Punta Norte, Caleta Valdés, Puerto Pirámides, Punta Delgada, etc. – estão a distâncias que variam de 98 a 184 quilômetros, razão pela qual algumas das excursões tomam o dia inteiro de visita. Além das visitas a esses pontos, em si, o turista tem ao seu dispor o Centro de Interpretação Carlos Ameghino, onde os guarda-faunas exibem documentários explicativos sobre a vida animal na região.
A Península forma, em seu avanço para o mar, o Golfo Nuevo, à direita, o Golfo San José, à esquerda. No Golfo Nuevo está localizado Puerto Pirámides, onde a transparência da água – cristalinamente clara, a 35 metros de profundidade – é a favorita para atividades subaquáticas.
De atividades adicionais, Puerto Madryn oferece pouco, por enquanto, a quem não se contenta apenas com a Natureza. Há um pequeno cassino, poucos restaurantes – dois ou três são de boa qualidade -, alguns produtos de artesanato, originários dos índios tehuelches. A torta galesa típica, por sua vez, pode ser melhor apreciada em Gaiman, por exemplo, onde algumas casas de chá conservam as características culinárias marcantes da colonização galesa, que a partir de 1865 começou a conquistar árdua e definitivamente essas terras inóspitas para as mãos do homem.
8 – Para iniciar a campanha promocional dessa região no Brasil, o escritório de representação da Austral – empresa aérea doméstica argentina que serve a 22 cidades do país, com seus jatos One Eleven e DC-9 Super 80 – em São Paulo, em conjunto com a Pluna, Sol Jet e Hotel Bauen (de Buenos Aires) organizou, em dezembro, uma viagem de jornalistas brasileiros à área.
Adolfo Holzer, representante comercial da Austral na capital paulista e acompanhante do grupo, explica que a Austral está colocando à disposição do público brasileiro e das operadoras nacionais um novo destino argentino que representa uma alternativa bastante sólida, durante o verão, às tradicionais opções por Buenos Aires, Bariloche e Mar del Plata. O escritório paulista tinha a ideia de trabalhar em torno do apelo turístico natural que é a Patagônia, pensando especificamente em Rio Gallegos, mais ao sul de Puerto Madryn. Porém, devido à melhor infraestrutura turística daqui, o escritório de Buenos Aires recomendou concentração de esforços na região da Península.
Ao lado da Austral, a Sol Jet – operadora ligada ao grupo – também está empenhada nesse trabalho. Uma das maiores empresas turísticas argentinas, há três anos a Sol Jet oferece programas para cá, trabalhando basicamente com as agências da capital portenha. Agora, pretende acionar mais seus programas junto ao público brasileiro, através da representação no Rio de Janeiro.
Em Puerto Madryn, o grupo brasileiro, acomodado no bom Hotel Península Valdés, contou com o trabalho turístico da Receptivo Puerto Madryn – subcontratada pela Sol Jet – e da excelente guia Mabel Covi. Holzer, por sua vez, regressa satisfeito por um motivo extra: a Austral passa a ser o escritório de divulgação turística da região no Brasil, a partir de agora.
9 – O número de turistas que visita a região cresce acentuadamente, ano a ano, especialmente nos meses de janeiro e fevereiro. Em 82, foram 50 mil os visitantes – 80% deles vieram de Buenos Aires, uns poucos de outras regiões do país, alguns do exterior -, este ano espera-se maior número. José Gaspar Pepitoni, diretor da Dirección de Conservación del Património Turístico del Chubut, não acredita que o aumento do fluxo turístico prejudique o equilíbrio ecológico da região. Além da presença dos guias turísticos e guarda-faunas durante as visitas, os animais suportam tranquilamente a média diária de 500 visitantes durante o verão. O maior problema para conservação das espécies, segundo explica, está com a população local, que pode matar os animais para alimentar seus cães ou vender as peles. Como a região é muito grande, os recursos humanos e financeiros limitados, o pessoal da Dirección trabalha com muito idealismo, procurando conscientizar a população da necessidade de preservar os animais, praticando uma política protetora que se diferencia elogiosamente da europeia: no Velho Mundo, as leis preservacionistas se implantaram, segundo Pepitoni, quando as espécies já estavam quase extintas, aqui procura-se protegê-las antes que a extinção aconteça.
10 – Além da Sol Jet, pelo menos três operadoras já estão oferecendo, no Brasil, programas para a Península: Dicka, Fenix e ATI. Rachel Rocha, gerente de vendas da ATI, explica que a empresa já oferecera um programa aéreo-rodoviário em 82, quando os turistas brasileiros desceram de avião até Buenos Aires e depois embarcaram numa excursão de 18 dias, em ônibus, pela Patagônia. Agora, o novo programa – com saídas de São Paulo, Rio, Curitiba e Porto Alegre – é todo aéreo, visando uma parte substancial do público que já conhece a Argentina e deseja encontrar novas opções.
Enquanto os turistas brasileiros podem começar a chegar, a Península prepara-se lentamente, devido às agruras econômicas, para os novos tempos: consolidado o seu atrativo natural, como polo receptivo, aumenta o número de confeitarias – tradicionais casas de chá, chocolates e lanches, na Argentina – em Puerto Madryn, aguarda-se a construção de um anfiteatro para “shows” e de um ambicioso aquário marinho.
Indiferentes a tudo isso, enquanto você respira uma lufada do veloz vento sulino na silenciosa noite patagônica, quem sabe um lobo marinho trava uma luta feroz pelo seu harém, nas praias favoritas da Península, ou uma baleia abre a cauda metros acima da linha d’água, pronta para sair ao alto mar e cumprir seu belo, tocante destino natural de navegadora livre dos oceanos.
Só resta torcer, talvez com lágrimas ameaçando os olhos: volte, baleia franca, tenha sorte e fuja das armadilhas do homem, volte ano que vem para ter sua cria e alegrar anonimamente mais alguns outros privilegiados corações também humanos.
Panrotas – Janeiro/84.
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