O PARTO DO HOMEM E A COMUNICAÇÃO CONSTRUTIVA
A nova história da humanidade, essa narrativa épica que estamos vivendo do embate entre o velho e o novo mundo, que é o tema de fundo oculto no enredo factual da pandemia, tem na questão da masculinidade um de seus capítulos mais instigantes.
Em todas as frentes da civilização, tal como a conhecemos, a necessidade urgente de transformação e de resposta da humanidade a um chamamento à evolução – e não à destruição suicida – tem nos escancarado os lados podres desse reino da dinamarca global em que nos tornamos. Nossos modelos, nossas ideias-guia, nossos valores – ou a falta de –, nossas visões de mundo estão sendo colocados na fornalha alquímica de uma mutação penosamente indispensável.
Já dizia a extraordinária futurista Barbara Marx Hubbard – https://www.barbaramarxhubbard.com/ -, falecida em 2019 aos 89 anos de idade, que a espécie humana está mutante da condição de homo sapiens para homo universalis. O que faz a roda se movimentar é a dinâmica da evolução, tal qual formulada inicialmente por Pierre Teilhard de Chardin – teilharddechardin.org -, um dos primeiros grandes pensadores do século XX a unir ciência com espiritualidade, em seus estudos. Toda a espécie humana, em sua diversidade de gêneros, está pressionada a esse salto, mas nesse contexto há pressões específicas delimitando a natureza do desafio para cada gênero.
No caso particular do gênero humano masculino, a dor profunda de alma que tortura os homens encarcerados no modelo masculino tóxico predominante é um dos silêncios mais gritantes desta nossa sociedade sob ameaça de decomposição, nesse tsunami arrasador de um ciclo vida-morte-transformação-renascimento de proporções noéticas. O cenário é de parte da população masculina congelada nesse modelo, enquanto outra parte está passando ou já passou pelo parto do novo homem.
O modelo prevalecente, na sua versão extrema, a do macho depredador, explode sua alma ferida na violência patológica contra a mulher, arrasa com o meio ambiente, violentando sua própria mãe, Pachamama, Gaia, Terra, não consegue fazer seus filhos subirem do patamar de meninos para o de homens, de verdade, homens de honra.
O mundo capitaneado por essa força cega destrutiva é o da competição desenfreada, da falta de sentido para a vida, pois essa resume-se a seu componente material, físico, estéril, morto, sem alma. É o mundo do darwinismo social, da vitória de uns obrigatoriamente resultando da derrota de outros tanto mais. O mundo da liderança insana que em lugar de cuidar das vidas, seu dever maior numa situação trágica como essa da pandemia, transporta a mensagem de bravatice de que o brasileiro não tem medo e daí, se deduz, por ignorância suicida, pode desprezar o que o bom senso da ciência aponta como a medida sanitária fundamental diante da ameaça invisível poderosamente destruidora. Daí pode romper com as regras sanitárias de seu próprio governo e sair dando o exemplo do rompimento das regras. Essa é a banda podre do masculino extremado, preso à sua polaridade destrutiva.
A Natureza, dizem os avanços da ciência de ponta, como os apontados por Gregg Braden – https://www.greggbraden.com/ -não é essencialmente baseada na competição, mas sim na cooperação. A competição desembestada é “masculina”, enquanto a cooperação é “feminina”. O salto de consciência do momento parece indicar a necessidade de conquista de um equilíbrio dinamicamente harmônico do ser, entre as porções “masculina” e “feminina” que habitam homens e mulheres.
O aspecto psíquico feminino do ser humano está associado à nutrição, ao acolhimento e à proteção à vida. O masculino representa a força objetiva de atuação no mundo, em avanço para dentro das fronteiras do desconhecido, sem cujo movimento não há progressão na caminhada da humanidade, nem no mundo físico, tampouco no subjetivo.
Pegando uma carona em Carl Gustav Jung, a evolução do ser humano se direciona à individuação, que é quando a pessoa pode alcançar a inteireza do seu potencial maior, encontrando um lugar de harmonização interna entre suas porções feminina e masculina. A ausência de um empenho do indivíduo nesse trabalho do casamento interior entre suas energias feminina e masculina produz as monstruosidades de quem está empedrado no extremo polarizado da sua força predominante.
Nessa revisão de conceitos e entendimento e transformação em que felizmente indivíduos e movimentos organizados se colocam, cabe um lugar à consideração autocrítica das mulheres pelo papel das mães que em muitas vezes, elas próprias vítimas desse modelo, perpetuam a sequência das mazelas pelo modo como criam seus filhos homens. Aos homens pais, por sua vez, cabe a revisão autocrítica do abandono da sua responsabilidade afetivo-amorosa na transmissão de um modelo masculino saudável aos filhos.
Desde a década de 1990, se não antes, iniciativas aqui e ali têm buscado questionar esse modelo, criando alternativas, para que o homem se identifique com as características próprias do seu gênero, mas temperadas pelo equilíbrio saudável com as características originárias do outro lado da moeda de duas faces. Para que não esteja a serviço da violência insana do genocídio dos semelhantes, mas sim direcionado à proteção e salvaguarda da vida dele próprio, homem, da mulher, da espécie humana, da Natureza, do planeta.
Daí a felicidade do nome de um movimento pioneiro iniciado há 26 anos no sul do país por Mauro Pozatti e que hoje se enraíza em expansão de maneira vigorosa muito bem vinda pelo Sudeste do país, e pelo Distrito Federal: Guerreiros do Coração – https://www.guerreirosdocoracao.com.br/ – , seguido de outras iniciativas que visam igualmente ajudar o auto-parto do novo homem. Os Guerreiros se apresentam como um movimento em busca da inteireza do ser (masculino), homens aprendendo a ser homens, com homens.
Há esperança em meio ao caos. Mas ainda são muito necessários a conscientização, o diálogo, o entendimento, o empenho, a dedicação de homens e mulheres, não mais como seres antagônicos, mas como parceiros de crescimento em amor que se dão as mãos, por ambos, e pelas futuras gerações.
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Nessa seara de empenho coletivo de conscientização e evolução, o papel da comunicação é fundamental. É um instrumento vital, nesse e em todos os demais capítulos dessa narrativa épica que estamos todos, conscientes ou não, cocriando o futuro agora. Somos autores e personagens.
Penso na necessidade de adotarmos os princípios e o propósito do que denomino Comunicação Construtiva. Isso tanto para os comunicadores profissionais, dos diversos meios e modos, quanto para todos nós, pois a comunicação é fator decisivo na ação de todos, no plano da vida individual e privada, quanto no território da ação pública e profissional. A comunicação expressa uma visão de mundo, produz efeitos sobre o receptor da mensagem que podem ajudá-lo a alavancar sua consciência para a transformação ou engessá-la, estagnada, num beco sem saída.
A Comunicação Construtiva está a serviço de impulsionar a abertura de horizontes de compreensão que seja útil a cada receptor na sua necessária revisão de vida e redirecionamento projetado de seus passos futuros. Essa ação é uma oportunidade que a pandemia gera, se o indivíduo quer extrair dessa tragédia um salto de qualidade para si, para sua família, para a sociedade.
É nessa direção que desenhei a série de webinars Cine Consciência, unindo para o participante a experiência estética prazerosa que o cinema pode proporcionar, o poder inspirador da Comunicação Construtiva e ferramentas do storytelling aplicadas a narrativas biográficas, estimulando homens e mulheres a um diálogo mutuamente iluminador e à prática da revisão de vida e preparo dos seus próximos passos, tudo centrado em tema específico de seu interesse. O veículo transportador da experiência é a história. Aquela do filme selecionado, mais uma ou duas que compartilho.
O próximo webinar, centrado no extraordinário documentário “The Mask You Live In” (“A Máscara em que Você Vive”) e nas histórias de homens de honra de contribuição significativa para este novo mundo que se forma, como Craig Gisbone na Europa, Mauro Pozatti no Brasil, é esse espaço de diálogo e interação inspiradora sobre o impacto negativo da masculinidade tóxica sobre meninos e adolescentes, e o alento de esperança da masculinidade saudável que se estabelece.
Quinze dias depois, o filme-guia é “Invictus”, as histórias são de Nelson Mandela e de Pedro Janot – primeiro presidente executivo da Azul Linhas Aéreas – e o tema é “Homens de Honra – Liderança Humanizadora”.
Para saber mais:
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