Arte narrativa integrada

EDVALDO PEREIRA LIMA – PUBLICADO EM 10/10/2018

Foto: Laura Carvalho de Moraes

O artista plástico Sérgio Penna revela-se, nesse seu livro A Casa Amarela, um bom contador de histórias instantâneas inspiradas no cotidiano, particularmente na vida familiar. Humor e reflexão combinam-se para uma experiência de prazer artístico e encontro de sentidos para a vida do dia a dia.

 

Toda história tem um propósito, toda história promete algo ao leitor.  Qual é o propósito de A Casa Amarela?

O propósito é compartilhar com os leitores de forma lúdica, leve, descontraída e bem-humorada minhas experiências de vinte anos de casado e de pai de dois filhos, com o objetivo de estimular a troca de vivências sobre relacionamento familiar e consequentemente a ampliação de conhecimento sobre o assunto.

 

Como nasceu o projeto?

Nasceu de uma necessidade interna de produzir uma obra na qual revelasse uma reflexão pessoal sobre o meu próprio cotidiano em família. A origem dessa necessidade é porque a família é muito importante para mim. Essa obra foi criada inicialmente para mim mesmo e para dividir com meus familiares. Depois, com o tempo, percebi que tinha elaborado uma obra que também poderia interessar ao público em geral, que poderia, por meio da forma de um livro, compartilhar minhas experiências sobre relacionamento familiar num âmbito mais amplo.

 

Você é artista plástico e nesse projeto é também escritor. Como se combinam esses talentos artísticos múltiplos em você?

Esses talentos múltiplos se combinam de uma forma muito natural em mim. Desde criança eu crio histórias em quadrinhos, nas quais já estavam presentes o artista plástico e o escritor, por meio dos desenhos e dos textos nos balões e roteiros das histórias. Com o tempo fui desenvolvendo esses talentos que direcionaram de forma sincera minha escolha profissional. Sou artista plástico, com mestrado em Cultura Visual, graduado em Educação Artística e atuo no mercado de ilustrações e quadrinhos há mais de quinze anos. No caso específico desse livro autobiográfico com narrativa em primeira pessoa, desenhos no estilo cartum da minha família e de mim mesmo, a combinação de linguagens ocorreu de maneira muito profunda e verdadeira. É, na minha concepção, a gestação de uma obra cujos elementos são inseparáveis para a mensagem que quero passar para o leitor.

 

Como foi o desenvolvimento do projeto, do ponto de vista criativo?

Utilizei um método criativo próprio, no qual a minha produção de tiras em quadrinhos foi base fundamental. Este método consistiu primeiro em desenvolver as tiras em quadrinhos sobre o meu cotidiano familiar. Simultaneamente criei os personagens baseados na minha família e em mim mesmo. A partir deste material gráfico, que foram mais de 100 tiras e levou cerca de três anos e meio para ser produzido, selecionei os quadrinhos e as ilustrações para compor o livro. Depois criei parágrafos de narrativa em primeira pessoa com uma abordagem descontraída e bem-humorada para que a leitura pudesse fluir para dentro dos balões e vice-versa. Com intenção semelhante, diagramei o livro para que os desenhos pudessem passar suavemente das tiras em quadrinhos para as ilustrações e vice-versa.

 

Como você trabalhou os ajustes finais necessários, na etapa de edição?

Após concluir a primeira versão, aguardei alguns dias para começar o processo de edição do material. Durante a primeira etapa de edição, reli o livro várias vezes, analisando o fluxo de leitura, a organização dos capítulos, a diagramação das páginas, o ritmo do texto, se era necessário modificar a posição das ilustrações e ou das tiras em quadrinhos, se era preciso fazer algum corte no material ou acrescentar algo. Em seguida fiz os ajustes necessários. Na segunda etapa fiz uma revisão ortográfica, que incluiu correção gramatical, digitação e estrutura das frases. Na terceira etapa submeti a obra para apreciação de minha esposa e filhos que fizeram comentários e sugestões valiosos que levei em consideração para editar a obra. Na etapa final contratei um profissional, com auxílio da editora, para realizar uma revisão ortográfica baseada na nova regra gramatical.

 

Você é do tipo de artista que submete os originais de uma obra a pessoas em quem você confia para uma leitura crítica?  Aconteceu isso nesse caso?  Como foi?

Sim. Eu submeto no final do processo criativo os originais das minhas obras para uma leitura crítica e ou apreciação visual. Entretanto, diferente de outros projetos desenvolvidos por mim, enquanto criava as tiras em quadrinhos da Casa Amarela, já fui submetendo os originais à apreciação de familiares e amigos mais próximos. O retorno foi positivo e isso me fez perceber que estava produzindo uma obra que poderia interessar ao público em geral. Mas, embora as tiras em quadrinhos fossem um importante ponto de partida, ainda faltava dar a esse conteúdo uma forma editorial. Assim, iniciei a segunda parte do processo, selecionando as tiras em quadrinhos, escrevendo, ilustrando e diagramando, que culminou com a primeira versão do livro. Esse original eu submeti apenas a minha esposa e filhos, que me deram sugestões e comentários valiosos para chegar à versão final do livro.

 

Ao encontrar a editora que acabou publicando o livro, você precisou reformatá-lo ou modifica-lo de alguma forma? Como se deu isso?

Em comum acordo com a editora reformatei o projeto inicial do livro passando da dimensão de 20X20 cm para 14X21 cm. Pesaram para essa alteração o custo da gráfica, que tem impacto no preço final do livro para os leitores, e a diagramação das páginas que revi esteticamente durante o processo de preparação da obra para publicação. Com relação ao conteúdo, o livro foi aprovado na íntegra pelo conselho editorial.

 

Pretende produzir uma sequência ou outros livros que sigam algo desse modelo e trabalhem também questões da vida familiar?

Sim. O projeto A Casa Amarela é uma quadrilogia. No primeiro livro abordei a minha experiência de convivência familiar mencionando um pouco sobre a relação com minha esposa, com meus filhos, com minha avó e com nossos cachorros. O próximo livro será focado na minha experiência de convivência com meus filhos. Depois abordarei mais sobre a relação com minha esposa e para finalizar a sequência, produzirei uma obra sobre a convivência com minha avó. Os três livros que ainda vou produzir dessa quadrilogia também serão bem-humorados com ilustrações e tiras em quadrinhos.

 

Como entende o papel das tiras e das histórias em quadrinhos nos dias de hoje, quanto à sua função educativa?

Penso que as tiras e as histórias em quadrinhos nos dias de hoje, quanto à sua função educativa, são um gênero narrativo visual muito interessante, que pode ser utilizado no processo educacional de qualquer idade, estimulando a curiosidade e o senso crítico dos alunos. A relação dos quadrinhos com as crianças e os adultos foi amplamente estudada a partir da segunda metade do século XX. Os primeiros estudos científicos sobre a utilização da linguagem dos quadrinhos para fins educacionais foram realizados para a Unesco. Os cientistas chegaram a medir a retina das crianças diante dos efeitos da onomatopeia para determinar quais quadros provocavam maior reação e poderiam ser utilizados em livros didáticos. Ao contrário dos que acusavam os quadrinhos de deixarem as crianças desleixadas, foi constatado que eles estimulam o intelecto.  Além disso, a cultura contemporânea é cada vez mais visual, e isso também fortalece a aceitação das tiras e das histórias em quadrinhos no ambiente educacional e para lazer e entretenimento nas mais diversas mídias, como revistas, livros e internet. Porém, é preciso reconhecer que mesmo após mais de um século de vida, as histórias em quadrinhos que surgiram como moderna comunicação de massa em 1895, mesmo ano do nascimento do cinema, ainda encontram resistência em diversos setores da educação e da cultura.

 

Qual tem sido a recepção do livro, por parte do público?

O retorno que tenho recebido é positivo. As pessoas me dizem que o texto é leve, bem-humorado, com ótimas ideias e muito divertido. Além disso, elas acham excelente tratar as dificuldades de relacionamento familiar com humor. Para mim, esse tipo de retorno me estimula profundamente a continuar desenvolvendo meu trabalho artístico com verdade, respeito e amor.

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Ficha técnica
Autor: Sérgio Penna
Título: A Casa Amarela: aprendendo a conviver em família, uma experiência pessoal
Editora: Biblioteca24horas | www.biblioteca24horas.com.br

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