Nas Margens

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Auris Sousa

“É uma resistência o tempo todo”

JL2015 Texto Site Auris Sousa Capítulo 5 Foto 1

Viver nas margens não é fácil, a exclusão chega de todas as formas. “Fui conhecer a Paulista aos 18 anos. O acesso que a gente tem da cidade é muito restrita e exclusora”.

Agnes teve alguns professores que a auxiliaram em seu processo de maturidade, principalmente política. Mas foi no Jade (Jovens Agentes pelo Direito à Educação) da ação educativa que seu olhar se ampliou. Foi lá que seu conhecimento saiu das profundezas e ela passou a enxergar um mundo de esperanças, de oportunidades. “Nele, soube que existem direitos, que existem direitos humanos. Fiquei sabendo que a USP existe e outras universidades públicas. Fiquei sabendo que era possível ir para a universidade, ainda mais sem precisar pagar”.


Em 2011 conquistou uma vaga no curso de Ciências Sociais na Unifesp. “Não tem como eu, que sempre estudei em escola pública e precária, disputar em conteúdo com a classe média, é impossível. Não é esse o caminho”.

Para ela o atalho foi o Enem, e mais tarde sua inscrição no Sisu (Sistema de Seleção Unificada). Só que as chaves para abrir os portões para uma nova vida, um novo rumo, não são fáceis de encontrar. “Parece que a universidade é um pouco organizada para quem é homem, classe média, que não vai precisar trabalhar que tem sua casinha”.

Agnes também é mar agitado, como ressaca marítima. Feito água que jorra as desigualdades e não abre mão de um debate.   “Você se sente excluída, a faculdade não pensa que você é mulher, que você tem filho, que seu filho vai precisar de uma creche, para isso te dar autonomia para você ir para faculdade. Que você vai precisar que seus direitos sociais ou que a faculdade funcione. A gente vive num país muito desigual, então é uma forma de exclusão. Eu ainda estou na universidade, mas eu estou em grande parte com este Movimento. É uma resistência o tempo todo”.

E é mesmo. Em 6 de fevereiro de 2013, Agnes, como representante discente eleita pelos estudantes, entrou na sala para participar da Congregação. Estava acompanhada de Ana Julia e de outras mães com crianças. “Quando entramos começou um debate de que as crianças não poderiam ficar naquele espaço, pois elas estavam sendo expostas.” A reunião foi encerrada pela presença das crianças.

“Ainda nesta data, quando estava sozinha no corredor com o Daniel Vasquez [diretor da Unifesp], ele afirmou que a ação de trazer nossos filhos para a Congregação é a mesma de um pai que leva o filho para o puteiro. Achei a declaração um absurdo e publiquei um depoimento sobre isso no Blogueiras Feministas.” Depois disso: “quase fui expulsa da universidade. ”

Matéria produzida originalmente como trabalho acadêmico para o Curso de Pós-Graduação em Jornalismo Literário, epl.

Editora-assistente para esta versão publicada no site www.edvaldopereiralima.com.br:  Larissa Laviano

Fotos Capítulos 1 e 2: Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco

Fotos Capítulos 3, 4 e 5: Auris Sousa

Acesse todos os demais capítulos dessa matéria.

Nas Margens – Auris Sousa – Capítulo 1
Nas Margens – Auris Sousa – Capítulo 2
Nas Margens – Auris Sousa – Capítulo 3
Nas Margens – Auris Sousa – Capítulo 4

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